Você se sente cansado mesmo sem fazer esforço físico? Tem dificuldades de concentração, humor instável ou ansiedade crescente? Pode não parecer, mas a resposta pode estar na cadeira onde você passa horas do seu dia.
O sedentarismo, tão comum na vida moderna, vai muito além dos impactos no corpo físico. Ele está moldando silenciosamente nossas emoções, nossa saúde mental e até nossas relações sociais — e os números não deixam dúvidas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1,4 bilhão de adultos no mundo são considerados fisicamente inativos. No Brasil, dados do IBGE apontam que apenas 30% da população pratica atividade física com regularidade. Mas o que muitos ainda não perceberam é que essa inatividade não atinge apenas o corpo: ela reverbera diretamente no cérebro, nas emoções e na qualidade de vida.
Sedentarismo: Mais que uma questão física
O termo “sedentarismo” normalmente evoca a imagem de um corpo parado. Mas o que acontece com a mente quando ela também deixa de se movimentar? O cérebro humano é feito para se mover — literalmente. Cada passo que damos, cada corrida, cada alongamento, ativa uma cascata bioquímica que regula hormônios como a serotonina, dopamina e endorfina — substâncias intimamente ligadas à sensação de bem-estar e equilíbrio emocional.
Ficar longos períodos sentado, em frente a telas, sem estímulos físicos, reduz a liberação desses neurotransmissores e contribui para quadros de ansiedade, depressão e estresse crônico. Estudos da Harvard Medical School e do National Institute of Mental Health mostram que pessoas sedentárias têm até 25% mais chances de desenvolver transtornos depressivos do que aquelas que praticam exercícios regularmente.
Trabalho, pandemia e o novo normal do corpo inativo
Nos últimos anos, especialmente após a pandemia da Covid-19, o home office e o uso excessivo de telas aumentaram drasticamente os níveis de inatividade física. O que antes era uma exceção tornou-se rotina: reuniões online, lazer digital, delivery na porta e academias substituídas por sofás.
A neurocientista Wendy Suzuki, autora de “A Mente em Movimento”, reforça que o cérebro responde positivamente ao movimento físico, especialmente em tempos de estresse. Segundo ela, “o exercício é como um botão de reset para o cérebro”. Em um mundo hiperconectado, porém, estamos esquecendo de apertar esse botão.
A armadilha do conforto e o ciclo da inércia emocional
Um dos paradoxos do sedentarismo moderno é a falsa sensação de conforto. Ao evitar o esforço físico, o corpo poupa energia — mas essa economia cobra caro. Com menos disposição, menos motivação e mais fadiga mental, cria-se um ciclo vicioso: quanto menos nos movimentamos, menos queremos nos mover. Isso impacta diretamente na autoestima, na produtividade e na forma como enfrentamos os desafios cotidianos.
Além disso, o sedentarismo tem um efeito direto na qualidade do sono, outro pilar essencial da saúde mental. Pesquisas do Sleep Research Society apontam que a atividade física regular contribui significativamente para um sono mais profundo e reparador, enquanto a inatividade está associada a distúrbios como insônia e apneia.
História real: o renascimento de Helena
Helena, 42 anos, passou quase uma década trabalhando como gerente administrativa em home office. Com rotinas intensas e pouco tempo para si, parou de se exercitar. Com o tempo, vieram crises de ansiedade, perda de foco e tristeza constante. Procurou ajuda psicológica e ouviu uma orientação simples: “Experimente caminhar todos os dias”.
Começou com 10 minutos por dia. Em pouco tempo, a caminhada virou corrida leve, depois aulas de dança. Em três meses, voltou a sorrir sem esforço. “Eu achava que estava cansada de trabalhar, mas era meu corpo pedindo movimento. Meu cérebro precisava respirar”, relata.
Helena é só um exemplo — mas pode ser o reflexo de milhares de histórias que ainda não foram contadas.
Caminhos possíveis: e se o movimento for o remédio?
Incorporar movimento ao cotidiano não exige uma academia ou uma revolução de hábitos. Começar pequeno é o segredo: subir escadas, caminhar no quarteirão, alongar-se ao acordar, dançar uma música preferida. A ciência mostra que até 15 minutos de atividade física por dia já podem gerar impactos positivos na saúde mental.
Empresas como a Microsoft e a Google vêm implementando “pausas ativas” em suas rotinas corporativas, com bons resultados em produtividade e bem-estar. O Brasil também caminha nessa direção: programas de atividade física em escolas e ambientes de trabalho têm sido incentivados por políticas públicas em diversas capitais.
E se o segredo da mente estiver nos pés?
Corpos que não se movem deixam mentes paradas. E mentes paradas são mais vulneráveis ao medo, à ansiedade e à apatia. O sedentarismo, silencioso e persistente, é um dos vilões menos percebidos da saúde mental contemporânea.
Mais do que estética ou longevidade, movimentar-se é um ato de autocuidado emocional, um lembrete diário de que estamos vivos. Talvez a pergunta certa não seja “Você pratica exercícios físicos?” — mas sim, “Você tem se dado a chance de respirar por meio do movimento?”
E você, como pretende manter sua mente em movimento nos próximos anos?